10/05/2011

2.

As mulheres são o doce preferido dos homens… daqueles que gostam de mulheres.

Podem ser loiras ou morenas, negras ou caucasianas, baixas ou altas, magras ou rechonchudas, serenas ou eléctricas, a tempo inteiro ou ocasionais, são sempre um complemento para a felicidade ou desgraça de um homem.



Tomás ouve o avô com um silêncio respeitador, mas também com o deleite de um jovem pós-adolescente de 19 anos.



Tive algumas na vida tresloucada que vivi.

Comecei cedo a relacionar-se com as mulheres.

Aos oito anos, a Manela, a vizinha do 94. Brincávamos muito aos papás e mamãs, aos médicos e enfermeiras. E levávamos a sério as brincadeiras pueris, de tal maneira que a D. Lurdes – a mãe da Manela - por várias vezes nos teve de dizer que não era necessário estarmos nus, um em cima do outro, para brincarmos aos papás e mamãs. Nem tão pouco a doutora precisava de despir o doente Pedro para lhe diagnosticar uma apendicite.



Tomás sorri ao ouvir as palavras daquele ser baixinho, definhado, mas com uma fogosidade no olhar que parece ainda realçar o fogo de outrora.



A nossa ingenuidade depressa passou quando nas brincadeiras tão realistas, descobrimos sensações de bem-estar… que estavam bem longe das nossas intenções iniciais.

As festas da Manela no meu pénis. O meu dedo na vagina da Manela. Coisa tão diferente! Quente, húmida…

Os beijos na boca, que era como os adultos faziam nos filmes. Hum, não é tão mau como parecia ser, ao vê-los no ecrã da televisão.

E que giro foi quando descobrimos que aquele novo dedo espetado, se moldava na perfeição naquele buraco existente entre as suas pernas. Era giro e não só… Até que a sensação sem ser boa, era boa.

D. Lurdes muitas vezes nos teve de dizer que não devíamos fazer aquelas coisas, que era muito feio e que Deus um dia nos castigaria severamente por fazermos aquelas brincadeiras desencontradas da vontade do Senhor.

Foi praga…

Os anos passaram, crescermos lado a lado até aos 10 anos e separaram-nos. Ela partiu com os pais para o estrangeiro e conclui que não deveria ter brincado tanto aos papás e mamãs… Tanto, tanto que a única forma de acabarem com a brincadeira, foi roubarem-me a mamã…

Não voltei a vê-la.

09/05/2011

1.

Pedro Castro dormita na poltrona da biblioteca. Os 71 anos de idade já não lhe permitem contrariar o sono que o invade depois do almoço. O livro caído no chão a seu lado, é testemunha que não fora com a intenção de dormir que para lá se dirigira. Mais uma leitura, mais um pouco de conhecimento, que este não ocupa lugar. Era sempre o que dizia ao seu neto Tomás, mas embora tenha sido sempre um rebelde contra a sesta, agora a idade já não lhe dá tréguas e o sono vence-o amiúde. Todas as tardes, para ser mais exacto.

Pedro Castro vive só. Ainda consegue desempenhar as tarefas mínimas da lida da casa. Cozinha as suas refeições, especialmente o almoço, que o jantar é coisa mais ligeira, apenas um chá e uma torrada. Hábito que a sua última mulher lhe tinha aconselhado já há vinte anos atrás. Limpa o pó com um asco de quem nunca o gostou de fazer.



Porcaria! Porque é que esta porcaria aparece? Costuma barafustar com o pano do pó, agora branco com um cabo de pvc rígido, na mão.



A cama deixa-a muitas vezes por fazer. Puxa-lhe as orelhas como ouvira muitas vezes a sua mãe dizer, quando o tempo era curto para completar a lida da casa. Mas não faz mal. Agora é apenas ele que lá se deita, já não a partilha com ninguém, portanto não há mal algum em ficar com o aspecto de que um comboio por lá passou, sem avisar a hora.

Bom também não é tanto assim. A sua filha Ana, que por lá passa dia sim, dia não para o ajudar nas arrumações prioritárias, tipo lavar a loiça ou arrumá-la, diz-lhe sempre que o melhor é arranjar alguém que o ajude, mas Pedro Castro responde-lhe:



Nã, o melhor é eu estar sozinho, não metas mulheres cá em casa. Ainda me passa uma coisa pela cabeça e ainda perco o respeito à minha falecida e…



A Ana ri-se quando o ouve dizer aquilo, mas acredita que seria algo bem possível de acontecer.



Pedro Castro vive só, mas não é um homem só. Lê, escreve, e recorda. Recorda a sua vida como se essa fosse a coisa mais importante de si. E foi.