Pedro Castro dormita na poltrona da biblioteca. Os 71 anos de idade já não lhe permitem contrariar o sono que o invade depois do almoço. O livro caído no chão a seu lado, é testemunha que não fora com a intenção de dormir que para lá se dirigira. Mais uma leitura, mais um pouco de conhecimento, que este não ocupa lugar. Era sempre o que dizia ao seu neto Tomás, mas embora tenha sido sempre um rebelde contra a sesta, agora a idade já não lhe dá tréguas e o sono vence-o amiúde. Todas as tardes, para ser mais exacto.
Pedro Castro vive só. Ainda consegue desempenhar as tarefas mínimas da lida da casa. Cozinha as suas refeições, especialmente o almoço, que o jantar é coisa mais ligeira, apenas um chá e uma torrada. Hábito que a sua última mulher lhe tinha aconselhado já há vinte anos atrás. Limpa o pó com um asco de quem nunca o gostou de fazer.
Porcaria! Porque é que esta porcaria aparece? Costuma barafustar com o pano do pó, agora branco com um cabo de pvc rígido, na mão.
A cama deixa-a muitas vezes por fazer. Puxa-lhe as orelhas como ouvira muitas vezes a sua mãe dizer, quando o tempo era curto para completar a lida da casa. Mas não faz mal. Agora é apenas ele que lá se deita, já não a partilha com ninguém, portanto não há mal algum em ficar com o aspecto de que um comboio por lá passou, sem avisar a hora.
Bom também não é tanto assim. A sua filha Ana, que por lá passa dia sim, dia não para o ajudar nas arrumações prioritárias, tipo lavar a loiça ou arrumá-la, diz-lhe sempre que o melhor é arranjar alguém que o ajude, mas Pedro Castro responde-lhe:
Nã, o melhor é eu estar sozinho, não metas mulheres cá em casa. Ainda me passa uma coisa pela cabeça e ainda perco o respeito à minha falecida e…
A Ana ri-se quando o ouve dizer aquilo, mas acredita que seria algo bem possível de acontecer.
Pedro Castro vive só, mas não é um homem só. Lê, escreve, e recorda. Recorda a sua vida como se essa fosse a coisa mais importante de si. E foi.
Aguardo o desenvolvimento... com expectativa.
ResponderEliminarBem vindo ao mundo da Blogosfera, de qualquer forma!